MARCOS PEIXE, pseudônimo de Marcos Antonio Santos
Souza, é de Salvador-BA; professor, poeta, contista, escritor do segmento
infanto-juvenil e participante de saraus e de antologias poéticas (inter)nacionais.
Desenvolve em praças, restaurantes, petiscarias, bibliotecas, festas literárias,
escolas, beira de rio, atividade oral e escrita que visa à conscientização
ambiental e étnica, além de proporcionar aos estudantes das escolas onde
leciona a conversação com poetas negros e indígenas. É autor de Olhos Obnubilados - crianças, adolescentes e
adultos invisíveis deste país (2014), As
tranças de Rapunzel (2017), O que a
gente faz? (2018) e Peixe fora
d’água? Por que será? (2019), pela Cultura Editorial. Para ele “A criança
precisa estar no olhar do poeta, para que vire palavra, na dimensão lúdica e
social, tornando-se visível”.
OS MINÍNUS SORRIDENTES
JOGAM-SE
EUFÓRICOS
Lagoa
larga funda no joelho (semana choveu deveras!)
As
pipas pousam longe
Pra
não molhar
E
brincam com bola de borracha n’água
Zoam
gargalham descamisados felizes
NA ÁGUA SUJA DO TERRENO BALDIO: UMA POÇA...
LÁPIS, CADERNO E LIVRO
Pega, moleque,
Este lápis, caderno e livro
Agora estuda,
Que é teu direito,
Negado a nossos antepassados.
Escreve, calcula
E lê nas entrelinhas
Das estórias da História
Mal contada e desarma, moleque,
Armadilhas seculares.
E seja gente para sempre, moleque,
Gente preta sim!
Feliz, visível e realizada,
Que é teu direito,
Negado a nossos antepassados.
PINGO
DE GENTE
Quando crescer,
Vou ser um menino levado,
Desses que chegam à casa da vó
E ela diz: êta que lá vem!!
Vou ser pintão
Assim como o Lucas, Matheus ou
Filipe.
Quando crescer,
Vou acreditar em caipora e
mula-sem-cabeça,
Também em Saci, Emília e Tainá da
Amazônia.
E terei a certeza de que a
Perspicácia dos sete, oito anos
Vence a malícia dos séculos.
Quando crescer
Vou ser grande como o Polegarzinho
e
Nunca pequeno como o Golias.
Vou ser atemporal como todas as
crianças:
"Ontem a gente vamos na
praia?"
"Amanhã nós tava no circo e
deu língua pro leão!"
Quando crescer
Vou trocar letras, inventar palavras,
Como pitita pra borboleta
E quinco pra ventilador.
Quero poder tudo
Que já não posso neste presente.
Quando crescer
Vou ser mar
Sendo pingo de gente!
A MOLHAÇÃO DO RIO
Sua
secura desmolhou
Fauna
Flora
E
os pés do roceiro.
Um
dia, chuva
Jogou-se
na cabeceira
Pá!
Pá não: spsiddiridifeidjda
Vai
moiá!
Disse
feliz apromando
Olho
e ouvido longe.
Mas
a certeza certa se deu
Quando
viu os cabra no leio
Escarrerado
pela torrente
Que
vinha
de
lado a lado
Molhando
o grande rio!
Um comentário:
Gosto em Marcos Peixe sua falta de disposição para frescuras, sua leveza, um carisma de poeta que sabe contemplar a beleza das coisas nos tempos em que elas estão belas...E sabe tornar as coisas belas em tempos de baixa estimas. Obrigado por aceitar o convite poeta.
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