30.7.21

porta poeta: Luana Andrade

 

Sou Luana Andrade, natural de Riacho de Santana, mas ultimamente resido em Guanambi Bahia, sou militante do coletivo Feminista Marias e do Levante Popular da Juventude.
Sou escritora de poesias, já participei de Antologias nacional e internacional e autora do livro Na Luta Estou.
Nas minhas escritas está sempre presente as lutas de classes, o meio em que vivemos usando a poesia como meio de expressão para denuncias e representatividade Feminista.



MULHER

 

Mulher, tu que sabe desse sofrimento,

Dessa luta por ser mulher,

Desses altos e baixos que tu viveu,

Do nó seco que tu engoliu,

Sabe também do choro que ninguém viu,

Aquelas lágrimas que caíram, secaram e cicatrizaram.

Mulher, tu sabe do seu poder,

Da sua força e dos demônios que lhe feriram

Não é agora que vai ser diferente,

Não é agora que você vai ser pau mandado,

Não é agora que você vai calar,

Mas é agora que você vai gritar.

Gritar pelas cicatrizes que marcaram e curaram, mas doem.

Gritar pelos sonhos tirados e pelos direitos negados,

Gritar por ser mulher.

Gritar pelos olhares que incomodam,

Gritar porque o mundo precisa ouvir teus lamentos,

Gritar para que outras mulheres não vivam esses mesmos sofrimentos.

 

 

 

 

REALIDADE OBSCURA

 

A ignorância humana cega toda humanidade.

A nossa realidade ignorada,

Onde os problemas distantes nos comovem,

Mas a realidade da própria cidade não é enxergada

Quanta hipocrisia!

Pessoas gritando por socorro todos os dias,

Pessoas que são seus vizinhos,

Pessoas que mora na mesma cidade que VOCÊ,

Pessoas que dormem no banco da praça do seu bairro,

Sim, são essas pessoas que

 choram,

 gritam,

Mas VOCÊ não vê.

VOCÊ não ouve,

A sua ignorância lhe deixa cego, alimentando seu ego.

VOCÊ ?

Sim, VOCÊ já parou para pensar que existem pessoas,

HUMANO,

Que se alimentam do resto da sua comida ?

Não, né?

Mas fica comovida com a guerra na Síria,

Com uma morte na Suíça.

Realidade obscura, hipocrisia.

VOCÊ não enxerga a realidade do seu próprio dia a dia.

Sabe aquela foto das redes sociais que te deixa chocada?

Que te faz digitar um “amém” em vão?

Então, a realidade daquela foto está abaixo do teu nariz.

Aquele sujeito é o mendigo que pede um real,

Lá no sinal para saciar a fome.

E tu passa no seu carro do ano e diz:

- “Vagabundo, não subiu na vida porque não quis”.

Vê se ele nasceu em berço de ouro

E o pai é o dono de uma empresa fantasma,

Que desvia o dinheiro do Estado.

Dinheiro que seria para aquelas pessoas que moram no lixão.

Dinheiro que pagaria a escola daquelas crianças,

Que vendem algodão doce até às onze da noite na Praça do Feijão.

Realidade obscura.

Não dá para citar todos os problemas que nos rodeiam,

Mas devemos tirar a venda e lutar,

Lutar contra aquilo que se diz normal,

Mas VOCÊ sabe que não passa de um problema social.

Sim, essa luta é a coletividade,

Cabe a toda a comunidade.

Não adianta dizer que o problema não é seu.

É seu sim, é de todos nós!

Que ficamos de blá blá blá nas redes sociais,

Gritando por Revolução,

Querendo mudar o mundo,

Mas não muda de atitude

Pois o que precisa diz ser revolucionária,

É a sua ação.

 

 

 

 

 

O QUE HÁ POR TRÁS DAS ROUPAS?

 

Uma vergonha escancarada?

Um corpo nu?

Uma alma despida?

Quem sabe um desejo escondido

É nas curvas que está o perigo.

Mas enfim, ninguém sabe o que há por trás das roupas,

Talvez um corpo bonito com alma sofrida, despedaçada, doída

Há muitas coisas escondidas

Quem sabe um labirinto todo embaraçado,

Um mistério,

Necessita de um mérito,

Um caminho a percorrer.

Quem sabe encontrar alguém disposto a conhecer, a ceder.

O merecedor tem que merecer,

Mas enfim, o que há por trás das roupas?

As vestes escondem as cicatrizes de uma vida corrida,

Talvez bandida com incuráveis feridas,

Mas no rosto sempre estampado um sorriso sincero,

Um olhar permanente daquele que acorrenta à mente

Não há como negar,

Independente,

Se não me engano escravo do próprio veneno,

Amarrado, amordaçado depende,

Talvez o corpo minta.

Mas e aí?

O que há por trás das roupas?

Um negro.

Me diz aí, alguém suspeito ou de respeito ?

Quem sabe a sociedade aponta o dedo,

Levou uma dura ou um baculeijo ?

É um negro, suspeito, sujeito.

Às roupas até escondem sua cor

Este ato tem nome: exclusão racial.

Por outro lado camisa larga, boné aba reta,

Esse é um motivo por ser apontado como bandido,

Que prefere a vida criminal.

Ah, é normal!

Ele anda por aí todo descolado,

Como disse tribo da periferia:

O quarto do último “ouvido Rap daquele que malandro decola fumando um beck .“

Mas e ai, o que há por trás das roupas?

É difícil ser maré,

Em um mundo de Mané,

É triste saber que um pedaço de pano decide quem você é.

 

 

 

 

ESSA ROUPA AQUI

 

 

Foi com essa roupa aqui, que fui estuprada,

Não fique assustada,

Você pode ser a próxima a ser abusada,

Sendo a mesma julgada a culpada.

Suas roupas são apenas mais uma desculpa esfarrapada,

Por uma pessoa que diz não controlada,

Numa rua escura.

Um medo estampado,

Expressão que cada mulher carrega no seu olhar.

Amedrontada.

Qualquer barulho lhe deixa arrepiada,

Um passo rápido,

Um ataque,

Mais um grito ignorado,

Mais uma vítima julgada.

Foi apenas mais uma de muitas que já foram caladas.

Essa é nossa história não contada,

Quantas de nós já foram abusadas ?

E quantas de nós vivemos essa realidade?

São histórias esquecidas,

Mas jamais apagadas por quem foi vivida.

São feridas não curadas,

Queixas registradas, que nunca foram atendidas.

E nós mulheres continuamos perseguidas,

Abusadas,

Atacadas,

Esfaqueadas e esquecidas  em túmulos de terra,

Onde os próprios sacanas levam flores para as belas adormecidas,

Apontada como culpadas.

Que diante de uma sociedade,

São vistas como oferecidas.

Short curto?

Mal amada, quase pelada,

Ainda reclama se for estuprada,

Batom vermelho também é um convite para ser abusada,

Vai me dizer que precisamos andar bem vestidas para não sermos atacadas ?

Que nada!

O Brasil foi invadido

E já achou os índios pelados,

Um convite para serem papados

E daí? Nós nascemos com a cara gozada,

Brasil nasceu de um estupro,

E porque não continuar sendo estuprado?

Por outro lado é ignorado

Os portugueses queria que fossemos civilizados,

Temos que andar vestidos

Porque é uma vergonha andar pelado, mas é normal ser estuprado.

E hoje...

Muitos casamentos fracassados,

Pouco acolhimento,

Muitas mulheres aterrorizadas dentro das suas próprias casas,

Tendo que satisfazer um macho,

Só por que está em um casamento,

Não fiquem caladas, só por que é mulher,

Precisamos gritar para mostrar a realidade que nenhuma de nós quer,

Porque muitas já foram silenciadas,

Uma desculpa fajuta, na má conduta

Iremos à luta!

O Brasil terá vozes na escuta,

Esse presente não se tornará um passado esquecido,

Pois não iremos nos calar,

Iremos gritar,

Contra o sistema que nos força a parar.

 

 

 

 

 

INOCÊNCIA MENINA

 

 

 

Na inocência da cruel vida,

Uma criança teve quatro anos da sua infância arrancada,

Que ficará marcado em sua jornada,

Perseguida por aqueles que pregam Cristo

Lutando pela pré-vida.

E esqueceu que a garota de dez anos,

Nem sequer sua vida viveu,

Por um tio que há interrompeu sua inocência,

Um feto em ti cresceu.

E no exato momento que a garota estava lutando entre morrer e seguir sua sina,

Uma tal Sara desceu do inferno e divulgou os dados da menina

E só isso não basta,

Pois teve cristão implorando de joelhos ao chão,

A Cristo nossa salvação,

Chamando a criança de assassina,

O céu e o inferno estão divididos,

E essa vida ensina.

Do outro lado, mulheres do fórum das mulheres unidas pela vida da menina

7 de agosto o silêncio foi interrompido,

Durante quatro anos uma garota chorava escondida,

Gritos ignorados

Essa é a nossa realidade

É apenas mais uma de muitas que foram caladas,

É apenas mais uma que saiu com culpada,

Por ser estuprada.

Onde estupro é normal,

E aborto é pecado,

O criminoso foragido,

A menina em perigo,

Muitos revoltados,

Poucos em sã consciência,

A inocente sendo chamada de cachorra no cio,

Será que nunca viu?

Cerca de 180 mulheres são estupradas por dia no Brasil,

E não vem dizer que a mídia mostra o que quer,

Pois uma garota de 10 anos já sentiu na pele o que é ser MULHER.

 

 

 

 

 

 

 

 

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