12.6.21

As únicas coisas

 As únicas coisas


Tá vendo você?

O que custa prevenção?

O que custa bom senso?

Não sabe o que custa?

Pera um cadinho que lhe digo.


O ar vem como pedágio

Mais parecendo um naufrágio

Ou um infinito e negativo empuxo

Olha só no que se deu seu "luxo"?


Agora estou eu aqui

Passando por um portal

Prendendo a respiração

Para quem sabe, partir para o espaço sideral

A bordo da U.S.S. Enterprise


Esposa, filhos, parentes

E todo tipo de gente

Apreensivos assim como eu

Sem saber quanto tempo passará

Ou se nesse trem irei embarcar


Enfim,

Sob lágrimas e desconforto

Dormência nos membros, mandíbula e torso

Que eu me arrisco em mostrar a única coisa que sempre soube ser bom

Palavras, sentimentos e quem sabe, um tom.




Geovane Ribeiro

10.6.21

porta poeta : Victor Az

 


Victor Az é engenheiro, escritor e poeta, tem textos publicados em blogs, sites, revistas literárias, exposições de poesias visuais, livros didáticos e publicou, pela Editora Segundo Selo, o livro de contos Sexo é apenas sexo. Mas o amor… Ah, o amor é foda.

 



saci

 

no meio do caminho

atiram uma pedra

 

atiram uma pedra

no meio do caminho

 

ele pegou

pôs no cachimbo

fumou

 

f

u

m

a

ç

a

 

e foi-se o problema

e foi-se o dinheiro

e foi-se a família

e foi-se o usuário

 

e foice

 

x.x.x

 

Fone Quebrado

 

Fone quebrado é como amor platônico

Numa chuva de verão em país tropical

Ou como a lua minguante da música do Djavan

Estraga Yellow Submarine

Estraga Breed

Tira o humor e descolore o som

O mundo fica mono, monótono

 

Fone quebrado é como um relacionamento que não deu certo

Não dá para ficar com ele porque está estragado

Porém é difícil se acostumar com outro

A primeira transa com outro parceiro

É como a primeira música com fone novo

A melodia é a mesma, mas os graves e agudos soam diferentes

Falta algo que o anterior tinha e o novo não consegue oferecer

 

Às vezes, até quando o novo é melhor que o anterior

Sentimos falta do anterior

Da forma como ele se encaixava no nosso corpo

Ou de como ele combinava com determinada música

O ideal seria ter fones e relacionamentos inquebráveis

Mas se eles nunca quebrassem

Como iríamos trocá-los?

 

x.x.x

 

Ela me trocou por um funkeiro

que usa o boné no topo da cabeça.

 

Não tenho nada contra ele gostar de funk

(eu poderia virar funkeiro e tomar ela de volta).

 

Mas nunca, nunca conseguiria

equilibrar o boné do jeito que ele faz.

 

Maldito malabarista!

 


poeta na estante:

  


João Macambyra


Nascido no Recôncavo Baiano, em Castro Alves /BA, mudou-se para Salvador, onde cresceu e começou a desenvolver a vocação para a escrita e a composição musical. Viveu em 15 cidades, algumas delas no exterior, sempre cantando e se acompanhando ou acompanhado por músicos. Atualmente, reside na cidade de Jundiaí /SP, atuando na pré-escola e no ensino fundamental, no ensino da língua inglesa. É cantor-autor e já participou de festivais no Brasil e nos EUA, e apesar de não mais ser um ofício, sempre que surge a oportunidade, se apresenta nos barzinhos da vida.



Canção 

Arde no meu peito
A dor da primavera,
A dor de uma semente
Que quer romper a casca,
Que quer brotar da terra.

Queima no meu ventre
A chama louca e cega,
A chama incandescente,
Que torna tudo claro ,
Que torna a vida bela.

Há uma vontade imensa
De abrir as janelas do infinito,
De rasgar os limites do possível
E ser mais, muito mais do que o permitido.

Vai, canção!
Traz, do além, meus desejos mais bonitos,
Traz o amor, que a tudo dá sentido,
Traz a força que ultrapassa a razão!
Vai você, que é muito mais do que eu,
Que pode mais,
Que voa mais,
Canção!




 Folheando

Livro de figuras de bichos, pura ilustração,
Atiçava a mente do moço-menino João.
Vivia folheando suas tardes, não tinha amigos não,
E a Massaranduba, seu moço, era esboço de canção.
Livro de livros ia no braço, o da religião,
Que pra muita gente, ainda serve de alfabetização.

-Que letra é essa, mãe?
-É "a", meu filho.
-Que letra é essa, mãe?
-É "b", meu filho!
-E esta outra aqui?
-João, pára com isso!
-João, não pára com isso!

Vem a traça e come a passa,
Faz a massa na pirraça.
A onda encaixa e o mito exala revolução.
Vem a fala e toma a praça,
Faz a massa na pirraça.
A onda incita e o livro inspira a Revolução!




 Sonho Baiano

Sonho, ah, que sonho!
Tão simplista, singular, risonho,
Ao redor de um parâmetro
Traçado a ferro e fogo,
Transitório e estranho.

O horizonte é ilha de encanto,
Canto tímido ao léu.
Ergo o olhar, vejo mais, sinto paz.
Turistas ao lado,
Dialogando seus fardos, seus ais,
De outrora, da fome,
Das eras primordiais,
De tanto pensar.

Corpos feitos de sonho,
Intensos a caminhar.
Os espaços são amplos,
Cerveja à beira-mar.
Veja sem julgar.
O traço é fino, o amor é lindo.
A vida é um sonho baiano,
Errôneo, pesado e mínimo:
Areia e estar.

Se há pecado ao sul do equador,
Só fará sentido o olfato que beijar o ardor,
E só fará sucesso quem rimar amor e dor.
Que todas as fragrâncias se misturem!
Que todas as dores, somadas, se curem!
Pois quando todos os incensos de amores perduram,
Aparece a flor.




  Cacos de Vidro

Quando me apaixonei por teu sorriso,
Na mesma noite, tive um quase-sonho:
Abria um mar de vidro,
Entrava no teu mundo,
E cacos de amor cortavam fundo.

Eu, já desacordado, achei meu rumo
Na força lancinante do teu beijo.
Hoje eu (de um ego imenso)
Envolto em teu silêncio,
Me calo e me entrego ao teu desejo.

E quando o amor-rotina entrar em cena,
Transformando em prosa livre este poema,
Que o sonho vire lenda,
E os cacos, virem taças,
Brindando o amor que enfim, valeu a pena.



 Estradas da Razão

No final daquela tarde, 
Livre de qualquer maldade,
Aprendi os versos desta canção.
Sei que a oportunidade é comadre da vontade,
E sem elas não tem samba, não.

Eu sei quantas estradas caminhei,
Quantas sementes já plantei,
Quantas ideias eu deixei passar,
Quantos segredos já guardei,
Quantas histórias já contei,
Conto as estrelas que eu quis ofuscar.

Da certeza e do destino,
Trago apenas os caminhos,
E a surpresa deste alvorecer.
Se encontrar algum sentido,
Correrei o grande risco
De ser mais do que propunha ser.

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