9.8.20

porta poeta, na estante:

GIBA MELO SANTOS DE SOUZA
32 anos de vida, mas apenas uns 10 de consciência social, herdeiro dos versos passados ninado por estórias de cordéis e causos contados pelos avós.  Historiador, formado   pela UNEB campus VI, forjado no teatro pelas companhias da casa Anísio Teixeira de Caetité, vivificado pela poesia desde a mais tenra idade, indicado nos cordéis por seu avô e conectado aos poemas pela biblioteca municipal de Guanambi. Meu nome é Gilberto (Giba), mas por ter uma rota entre perdas e lembranças de roteiro adotei a alcunha de poeta sem memória dada a mim pela poeta Kity Meira de Brumado.  Bom, é isto por hora.
(Pagina no face: Poeta sem memória) 
 e-mail para contato-
jonhy.bala@hotmailcom.


Jeeps verdes,
corsas azuis,
Jardins da praça do fórum
em manhãs de domingo.
Lua crescente
notável e suavemente
Sorrindo.
Estrela Dalva
em céu de brigadeiro,
Seus lábios soprando
romance de segunda infância
reluzem e ofuscam
rachaduras nas calçadas da rua
fazem-se guias de recomeços
ajudando superar tropeços
de desesperança.
Cajueiros carregados,
o cheiro do assado
Sol que surge brando
nas frestas das copas de mangueiras.
Fada que espanta
o bicho papão,
ternura que sobrepõe-se
ao medo da solidão.
É Sintonia fina a meia noite
em rádios brasileiras
Baiana:
você é uma música oitentista mineira.




( sem título )

Homem não é pênis,
Pênis não é crime,
Crime não é brincadeira,
Brincadeira não é babaquice.
Babaquice não é engraçada,
Engraçada não é a burrice.
A burrice não é impensada
Impensada não é ação canalha.
A ação canalha
vem do discurso,
O discurso é falocêntrico
e criminoso,
reprodução do babaca
que pensa ser engraçada
sua burrice forjadamente impensada
que impulsiona ação
a ação de outro canalha.





( sem titulo 2)

Me alembro dos beijus regados a óleo de soja,
aos olhos de mãe regados a lágrimas,
a felicidade chorava, sem manteiga
derretia-se em si mesma e inundava
sobre a mesa café quente,
pouco açúcar
pois a vida
se adoçava
nos sorrisos
que ela dava
entre lágrimas.
Jesus ria

num momento de alegria
sob a luz de um lampião,
as páginas
de uma bíblia velha
que ela lia,
pouco sabia ler
mas na arte do fazer
bela interprete traduzia.
-Noite de roça 22 de maio de 2015




( sem titulo 3)

E como foi fim de semana?
Solavanco e frio de carroceria de caminhão,
subida de mais de três quilômetros de chão.
Para acordar, para perceber,
que o todo da realidade,
não pertence apenas a mim.
_
_
Sobre areiões,
pedreiras,
galhos de flores arrancadas,
caminhada.
sobre reencontro,
cantos de pássaros,
verdejantes planaltos
e quedas d'agua.
_
_
E como foi seu dia?
(Ninguem te perguntou?
Não acredito. Daria um verso tão bonito.)
_
_
Tem um pé de quintal na minha fonte de medo.
No escuro procuro um pezinho de muro, um corpo,
calor.
Este dia corrido é confuso demais.
Já não sei o que é serra, o que é monte,
o que é pedra, o que é paralelo,
e do alto da laje as antenas são todas iguais.
_
_
E hoje eu posso dormir como aluno
de repente amanhã acordar professor.




( sem titulo 4 )

Totipah: das passagens, do caminho.
A poesia me salvou da loucura,
me guiou á diversos paraísos
entre terrestres e celestiais.
Trouxe-me companhia, abrigo,
motivos para pedalar,
o coração impulsiona
as pernas que começam
a movimentar-se.
Da voz do eu-lirico converso
com os ventos, de dentro
do eu solido os encantos
materializam-se.
Totipah, palavra milenar de
diversos significados
mas para mim é uma viagem da qual
não quero voltar.

Segurança? Abandonei,
deixei para trás,
o mapa de meu caminho
eu vejo ao olhar
para um desanuviado
céu noturno
de qualquer lugar.




Pai

 o dever te espera

o devir
é a esfera
que se move em várias direções
feito elétron em busca de colisão

na minha cultura pai
a antropofagia comeu tua força suprema
vomitou-lhe um ser especial

você pai
não é mais um Deus
que não possa errar
é um exemplo de humano
um errante amigo

pai, quero fazer sim
diferente de ti.
quando te compreendi
reconheço mais
os fardos " dessa profissão"
ser pai
não deve ser
um currículo em vão.

6.8.20

Porta poeta, na estante:

Maria Dolores Rodriguez é uma artista interdisciplinar, poeta, professora e pesquisadora negra. Registrada em Saubara, lugar das Caretas do Mingau, das marujadas e das rendeiras; criada em Feira de Santana, terra de Lucas e de Ivannide Santa Bárbara. Atualmente, reside em Salvador, onde realiza doutorado em Literatura e Cultura no Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia.



A POESIA:


manter
os pés no chão

enroscar a verdade,
emudecê-la

se esconder
da experiência de morte

rosnar para a
cidade e seus signos

marchar em direção
a um penhasco
cambaleando no escuro

perder de vista
o roçado e
embolar-se em
um milharal

começar pelo fim

desdenhar do vulto
de igualdade

rosnar para
um cão manso

não alcançar o chão






THE WORLD IS JUST A LITTLE TOWN

enquanto espero
o que nem sei mais
direito o quê

vejo pássaros
em balés circunscritos
no espaço da minha janela

enquanto espero,
os pássaros
dançando
na linha do tempo
de um dia
insuspeito,
pousam pra mim
exibindo
o seu jeito
de ser livre

enquanto os pássaros
esperam por meu olhar
encaixilhado na janela
urubus pousados
no alto dos prédios
nos olham








NEGRO-VIDA 

para Beatriz Nascimento, Guerreiro Ramos e, talvez, Paulo Leminski

Quando chove, eu fico
pensando 
em todos
os bairros
pretos de Salvador 
: deslizamentos 
encostas
alagamentos

Quando chove, uma gota ácida
reage quimicamente
nas minhas lembranças inventadas
revelando fotografias
na sala escura da memória

Faz sol no outro dia
e as pessoas 
se iluminam 
mas não o suficiente 
pra esquecerem 
o que a previsão do tempo 
delibera 

Nenhuma poesia
levanta muros
constrói casas ou
interrompe a chuva


















(  sem título )

a palavra:
esse egun 
que enquanto não encarna 
não me deixa fazer mais nada.

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