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28.7.22

poeta na estante:

 


 Geraldo Lavigne de Lemos é poeta e advogado, membro da Academia de Letras de Ilhéus, autor de seis livros, entre os quais, Poética da Existência (Editora Patuá, 2019).



ciclo de cultivares

  

após o fogo hostil
queimar minha nervura
aguardo o clima brando
que fará da brasa a cinza
com as gotas do rocio do pranto
 
dado o meu corpo ao pousio
terei humo para nutrir o campo
e olhos d’água a formar sutil regato
 
numa manhã clara e morna
com os braços mansos
arado enxada e ancinho
amanharei a terra para o plantio

 

 

 

 

 

 

 

 

 

aquartelado

  

insone enfrento a noite que se avizinha
 
cubro-me de Rádio-226
em sinal in extremis
(devaneio de estrela cadente)
e assinalo territórios utópicos
 
se capturado
torno-me engodo no bojo
: destruo no âmago a sociedade uniformizante
 
 
 

 

o despertar do ódio

   

o ódio perdeu a mordaça
atrás da tela
 
ele agora tem voz alta
no meio digital
 
realidade virtual
que desvirtua
o real
– e que o expõe, também
 
associal, em rede,
o ódio é mais forte
 
 

 

 

mal tempo

  
quero inquietar,
incomodar o recôndito.
 
causar desassossego
naquilo que descansa.
 
o engano flore e frutifica
no paradeiro.
 
sopro a tormenta,
com raio, chuva e trovão.
 
provoco o desastre
que varre as encostas.
 
inicio tempestades de areia,
transporto dunas
e cubro ruínas.
 
que venha o novo.
 
o efeito perturbador
elimina o status quo.
 
 
 

 




não albergo

 

eu não lamento sobre o erro.
pra esse peso, eu decreto o banimento.
 
que ele ocupe outro terreno,
     arrende outro corpo.
 
eu não o quero preso. sem exaspero,
reclamo, tão só, o ensinamento.
 

 

 

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