1.7.20

Padecer no paraíso

Dedico este poema a Carlos Arouca (que acabou de se tornar pai)
 e a Tadeu Vinicius (que ainda não é):



Ter filho 
é padecer no paraíso,
aceitar o convite
e estar no constante 
ímpeto de recusá-lo, 
ganhar horas
de prazer e sentir a perda
do tempo no cansaço.

A linha tênue
entre o aviso repetitivo
e o tapa inevitável
denuncia 
que não é de agora
que se perdeu a fórmula certa 
para educá-lo.

A fralda, o livro,
o pão de cada dia
provam que, 
quando o filho
ainda não existia, 
dinheiro era capim
(e não este campo devastado).

Sorrir frente ao caos 
dos brinquedos, 
encontrar resposta
para todos os medos,
convencer-se da presença 
pontual do sossego.

Padecer no paraíso
é parecido 
com sentir-se inteiro
e somente nessa hora
ficar sabendo
que a vida era mistério
sem propósito
até antes 
da chegada do rebento.

[Santiago Fontoura]

Um comentário:

Poeta de praça vazia disse...

Fui muito afetado por esse poema, chorei, li novamente, chorei de novo, e a cada dia percebo esse poema fazer mais sentido na minha vida de pai.

Obrigado Cazzo pelo presente.

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