Dedico este poema a Carlos Arouca (que acabou de se tornar pai)
e a Tadeu Vinicius (que ainda não é):
Ter filho
é padecer no paraíso,
aceitar o convite
e estar no constante
ímpeto de recusá-lo,
ganhar horas
de prazer e sentir a perda
do tempo no cansaço.
A linha tênue
entre o aviso repetitivo
e o tapa inevitável
denuncia
que não é de agora
que se perdeu a fórmula certa
para educá-lo.
A fralda, o livro,
o pão de cada dia
provam que,
quando o filho
ainda não existia,
dinheiro era capim
(e não este campo devastado).
Sorrir frente ao caos
dos brinquedos,
encontrar resposta
para todos os medos,
convencer-se da presença
pontual do sossego.
Padecer no paraíso
é parecido
com sentir-se inteiro
e somente nessa hora
ficar sabendo
que a vida era mistério
sem propósito
até antes
da chegada do rebento.
[Santiago Fontoura]
Um comentário:
Fui muito afetado por esse poema, chorei, li novamente, chorei de novo, e a cada dia percebo esse poema fazer mais sentido na minha vida de pai.
Obrigado Cazzo pelo presente.
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