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4.12.20

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quão prazeroso é constatar que a filosofia
ganhou laringe; que a ciência escancarou mais uma boca; que a religião deformou
dois olhos
na mesma dimensão
de suas paredes.


a poesia permanece
inativa por longo período
e, volta e meia, é expelida
pra fora de uma garganta.


as ideias e as palavras dão piruetas
ao ar livre, no céu.
comemoram a perda de um ouvido,
a queda das unhas, o inchaço da pança.
os dentes, incrivelmente, não atrapalham
saídas sintáticas, propagandas semânticas.
os sussurros aproveitam
conquistas carnívoras. cai o véu
de um casal
desobstruindo o caminho de um artigo
e um adjetivo
antes do beijo.


a arte, acomodada, nunca deixa de engatilhar
uma vanguarda, enquanto o corpo segue
perdendo pelos.
a arte promete quando empaca:
só darei outro passo largo
se o corpo juntamente aceitar
que também já não é mais o mesmo.


( adão cunha )

Um comentário:

Unknown disse...

Valeu!

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