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8.7.20

apresentamos: porta poeta



Santiago Fontoura, nascido em Salvador-BA, publicou dois livros de poemas: Leitura neon-reciclada (organismo editora, 2014) e poemas para performance (Editora Patuá, 2018); um de crônicas: Anticarta de Dona Lúcia – crônicas da fatídica copa do mundo no Brasil (Amazon, 2014); e um de contos: Adote um maluco (Editora Mondrongo, 2017). Em janeiro de 2017, organizou com Daniela Galdino a revista organismo 2 (organismo editora). Assinou, por dois anos, o projeto Selfie Poesia (entrevistas com poetas), no Youtube.


 O mundo perto do fim

Todas as putas
são chutadas ladeira a baixo
e o que nos resta
é esta paisagem estática.
 
Uma cidade
que não respeita nem contempla
suas rameiras milenares
há-de ficar marcada por ruínas
eternamente rememoradas.
 
E não haverá hotel
com estrela suficiente
para dissipar tamanha desgraça.

Uma carta do futuro (não muito distante)
 
O amor já não frequenta canções rasteiras
(beijos e abraços
retirados das prateleiras)
porque, raro, o toque denuncia
a banalidade celebrada nos tempos idos.
 
A distância, outrora
sinônimo de indiferença,
se estabelece como uma
delicada forma de afeto.
 
De perto, há o deleite dos gestos:
o mínimo contato ganha contornos
de uma novidade sempre eterna.
 
A monotonia, ausente,
parece ter os dias contados.
 
E nos dicionários, a saudade é o verbete que nunca se encerra.




Uma carta do futuro (não muito distante)
 
 O amor já não frequenta canções rasteiras
(beijos e abraços
retirados das prateleiras)
porque, raro, o toque denuncia
a banalidade celebrada nos tempos idos.
 
A distância, outrora
sinônimo de indiferença,
se estabelece como uma
delicada forma de afeto.
 
De perto, há o deleite dos gestos:
o mínimo contato ganha contornos
de uma novidade sempre eterna.
 
A monotonia, ausente,
parece ter os dias contados.
 
E nos dicionários, a saudade é o verbete que nunca se encerra.

 


Comunhão

Somente as coisas ditas geram conflito:
os pratos para serem lavados,
o beijo sem paixão,
o elogio mal interpretado.
 
Os gestos, se sutis, convocam
desapego às ideias inflexíveis.
 
Já não ser o mesmo
e ainda assim ser inteiro
não parece tarefa das mais árduas
quando o desaforo
perde lugar para o afago.
 
Faz-se, então, presente
o medo gritante
de que seja efêmero
esse instante de paz – mero intervalo
para arquitetar nova estratégia de guerra. 




Luiz Melodia

 O poeta sempre é malandro:
 - se desliza sutil
por dentro de curvas messalinas
no fogo intenso de um amor perfeito
(efêmero por natureza);
- se não abre mão do verso
ousado, de rara destreza,
e sabe o quanto custa
ser inflexível quando
não há motivo algum
de parecer apresentável;
- se evita gritar impropérios
(versos roucos vomitados)
em plena praça
é porque mal aceita
a margem do papel;
- se digressivo no seu paladar
poético e insano
sonha explodir
num depósito qualquer
todas as mulheres feias do mundo.




Ímpeto religioso

A conveniente ideia
de que vivemos, ininterruptos,
em luta de classes
sempre cai por terra
se, cansado deste embate nefasto,
me convenço de que a vida
(trágica, complexa, contraditória)
é Judas traindo Cristo.
 
Nada dialética.
 


4 comentários:

Poeta de praça vazia disse...

Voce tem contribuído para o mundo menos medíocre pela viés da produtividade, pela crença no "estou fazendo a minha parte" ao invés de criticar simplesmente, e só. Acredito que você esteja entre os melhores escritores vivos da Bahia (não abri muito o leque por ignorância, e para ter veracidade). Seu engajamento crítico-politico é uma escola contra o analfabetismo político, sua poesia e prosa escrevem a história como um lugar de "realismo", pouco romantismo nos contos, mas muito amor, nada tão açucarado, meio amaro. Quem te ler deve reconhecer o escritor profissional e também artista que saca a notícia, ou os poemas da vida cotidiana, dos questionamentos enquanto frita quitutes, ou vai jogar o lixo fora. Santiago Fontoura é um escritor-poeta que aguça meu gosto pela literatura.

Erique disse...

Parabéns meu amigo!
👍🏾👍🏾👍🏾👍🏾👍🏾👍🏾

Unknown disse...

O poeta sublima o pensamento através das palavras. Parabéns palavras, vocês estão em boas mãos.

Unknown disse...

O poeta sublima o pensamento através das palavras. Parabéns, palavras, vocês estão em boas mãos

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