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25.5.20

SOU RIO




Na correnteza vou, deixo-me fluir;

Fragmentos de uns e de outros, em mim.

Não resisto, absorvo-os sem deixar de ser quem sou;

Muitos banham-se em mim, alguns deixam dor;


Dissolvo no leito do rio que sou,

E desaguo no mar do infinito. Sorrio, não por estar feliz;

É que o infinito me assusta, trapaceio o medo;

E num impulso mergulho,


Em minhas profundas águas, arrebata vou, sem veredas.

Sou tragada pela trágica força do nada, 

Camaleonicamente, transmuto.

Agora, sou um ponto longínquo qualquer.


Sôfrega, atiro-me à margem despida de tudo que sou,

Ou fui. Eu era? Esse breve momento me alucina,

Aquela que era já não é mais, sem nunca ter sido,

Menos, do que foi dito ou sentido,


O segundo próximo em que houvera convergido.

E num lapso, em meio a um passo em falso,

Passo a ser, sólido, fluído, líquido..

Já não há medo. Sorrio. SOU RIO.


Rosângela Borges. 


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