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25.5.20

SOU RIO




Na correnteza vou, deixo-me fluir;

Fragmentos de uns e de outros, em mim.

Não resisto, absorvo-os sem deixar de ser quem sou;

Muitos banham-se em mim, alguns deixam dor;


Dissolvo no leito do rio que sou,

E desaguo no mar do infinito. Sorrio, não por estar feliz;

É que o infinito me assusta, trapaceio o medo;

E num impulso mergulho,


Em minhas profundas águas, arrebata vou, sem veredas.

Sou tragada pela trágica força do nada, 

Camaleonicamente, transmuto.

Agora, sou um ponto longínquo qualquer.


Sôfrega, atiro-me à margem despida de tudo que sou,

Ou fui. Eu era? Esse breve momento me alucina,

Aquela que era já não é mais, sem nunca ter sido,

Menos, do que foi dito ou sentido,


O segundo próximo em que houvera convergido.

E num lapso, em meio a um passo em falso,

Passo a ser, sólido, fluído, líquido..

Já não há medo. Sorrio. SOU RIO.


Rosângela Borges. 


21.5.20

AMOR MORRE?

  


Hoje, em uma noite de chuva, o AMOR morreu! 


Nem sei ao certo quantos projéteis,

Atônita, assisto pela janela. Por que  o fim em tão pouco tempo?

Um pequeno espaço, entre a bala e o corpo jovem no asfalto,

Assim, foi o último minuto dela!


Fico a imaginá-la, viva, junto ao seu par: abraços, beijos...

Agora, jaz, inerte no chão sujo de sangue e lama.

Tão breve trajetória entre o antes e o agora. O sangue outrora na veia, escorre pela via. 


Uma névoa paira no céu, a tristeza acena, 

Como se desse adeus à vida. Aceno de volta.

Vou dormir pensando: Quantas terão o mesmo fim? 


Acordo, abro a janela,  meus olhos veem os primeiros raios do sol,

Vejo ao longe dois corpos unidos num comovente abraço,

Duas bocas se unem, outra história, até quando? Não sei...


Somente sei que hoje, em um dia de sol: o AMOR, renasceu!


Rosângela Borges.


13.5.20

Do que não deveria ser dito



Neste momento, 
quais são as palavras não podem ser ditas???
O que pode escapulir  dos nossos pensamentos e causar revoluções,  polêmicas?

As vezes é preciso parar de pensar,
de omitir opiniões,
calar a mente e ouvir o coração. 

Nestes dias difíceis, 
a vontade de falar o que sente e o que pensa se torna maior.
Os dedos coçam no impulso da língua,
motivada pela mente inquieta,
que pede por razões e soluções. 

As palavras e ideias saem de forma automática,
impensadas,
no calor de um sentimento qualquer. 
E de um pensamento vago,
 sai a imprecisão do que não foi dito.

Entre as crises que enfrentamos, atualmente, 
calar a mente e o coração
 é um desafio maior. 
Queremos dizer com os nossos valores e pensamentos, 
ferir e magoar com as armas do equívoco, 
aniquilar o errado
 com mais um erro.

Talvez seja o momento único
 de por uma tranca naquilo 
que não se pensa e saí no calor da emoção, 
no que não foi desejado em dizer
 ou do que não poderia ser dito.

As palavras saem,
 ficam dispersas como um vírus que se contraí pelo ar, 
por meio de um espirro. 
Tudo vitalizar, replica, multiplica e se perde...

Vivemos o que não pode ser dito

Gustavo Medeiros

11.5.20

Ação de graça



sou desgraçado
intacto
pra quem deveria
conter só amor

sou um cacto
contendo fel
nesse deserto,
seu subjetivo

sou censurado
meu coração de poeta
não quer ir a festa
não sabe o que detecta
se portal ou fresta
se amador ou amado.

sou forasteiro
que as moradas
Já fez prisoneiros
aqui não é terra
és terreiro.

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