Na correnteza vou, deixo-me fluir;
Fragmentos de uns e de outros, em mim.
Não resisto, absorvo-os sem deixar de ser quem sou;
Muitos banham-se em mim, alguns deixam dor;
Dissolvo no leito do rio que sou,
E desaguo no mar do infinito. Sorrio, não por estar feliz;
É que o infinito me assusta, trapaceio o medo;
E num impulso mergulho,
Em minhas profundas águas, arrebata vou, sem veredas.
Sou tragada pela trágica força do nada,
Camaleonicamente, transmuto.
Agora, sou um ponto longínquo qualquer.
Sôfrega, atiro-me à margem despida de tudo que sou,
Ou fui. Eu era? Esse breve momento me alucina,
Aquela que era já não é mais, sem nunca ter sido,
Menos, do que foi dito ou sentido,
O segundo próximo em que houvera convergido.
E num lapso, em meio a um passo em falso,
Passo a ser, sólido, fluído, líquido..
Já não há medo. Sorrio. SOU RIO.
Rosângela Borges.