Alex Simões é poeta e performer. Em dezembro lançou “no meu corpo o canto: #experimentoscomletrasurbanas”, livro de artista em coautoria com o Coletivo Tanto Criações Compartilhadas. Tem um blog: toobitornottoobit.blogspot.com.
verbi gratia
dinheiro não traz
felicidade mas
felicidade pode
tudo até
vir num email
matutino
fortuito
se o destinatário
souber vasculhar
a caixa
posta restante
e sorrir
de graça
sem ser
gratuito.
dor e memória
dor é memória
distensão dos assombros
fisgada de perdas
pontada de abandonos
silenciamento reflexo
condicionando os desconfortos.
única lembrança
remota ou recente
que nem o Alzheimer
há de apagar.
até que a própria dor
cesse quem a sente e,
com sorte,
fique só a memória.
a velha bailarina
I
como era muito alongada,
nunca lhe cansava
a beleza.
II
enquanto o mundo envelhece,
ela se aquece.
III
é tão generosa que conta
o segredo da juventude:
"1, 2, 3 4, 5, 6, 7, 8."
IV
seu corpo faz menos;
com tudo, diz mais.
V
inspira,
expira,
de novo...
VI
para não ter saudades,
comprou para o quarto
uma cortina com black out.
VII
sua vida é um baile
da terceira idade.
VIII
"supino?"
"não, eu disse 'sou Pina.'"
IX
não existe bailarina velha,
nem velha bailarina.
X
calça o tênis para caminhar
como se fossem sapatilhas.
XI
uma fralda geriátrica
não é nada diante de
uma vida inteira de maiô
XII
dentro da voz de Marina
habita uma velha bailarina.
XIV
"velha é o caralho",
pensou durante a homenagem,
mas só disse "muito obrigada".
XV
agora, sim,
sabe tudo de cor
e
o
grafia
haikai
eu subo até lá em cima
eu perco até o poema
mas não perco a rima