Sou Luana
Andrade, natural de Riacho de Santana, mas ultimamente resido em Guanambi
Bahia, sou militante do coletivo Feminista Marias e do Levante Popular da
Juventude.
Sou
escritora de poesias, já participei de Antologias nacional e internacional e
autora do livro Na Luta Estou.
Nas
minhas escritas está sempre presente as lutas de classes, o meio em que vivemos
usando a poesia como meio de expressão para denuncias e representatividade
Feminista.
MULHER
Mulher, tu que
sabe desse sofrimento,
Dessa luta por ser
mulher,
Desses altos e
baixos que tu viveu,
Do nó seco que tu
engoliu,
Sabe também do
choro que ninguém viu,
Aquelas lágrimas
que caíram, secaram e cicatrizaram.
Mulher, tu sabe do seu poder,
Da sua força e dos
demônios que lhe feriram
Não é agora que
vai ser diferente,
Não é agora que
você vai ser pau mandado,
Não é agora que
você vai calar,
Mas é agora que
você vai gritar.
Gritar pelas cicatrizes que marcaram e curaram,
mas doem.
Gritar pelos sonhos tirados e pelos direitos
negados,
Gritar por ser mulher.
Gritar pelos olhares que incomodam,
Gritar porque o mundo precisa ouvir teus
lamentos,
Gritar para que outras mulheres não vivam esses
mesmos sofrimentos.
REALIDADE OBSCURA
A ignorância humana cega toda humanidade.
A nossa realidade ignorada,
Onde os problemas distantes nos comovem,
Mas a realidade da própria cidade não é
enxergada
Quanta hipocrisia!
Pessoas gritando por socorro todos os dias,
Pessoas que são seus vizinhos,
Pessoas que mora na mesma cidade que VOCÊ,
Pessoas que dormem no banco da praça do seu
bairro,
Sim, são essas pessoas que
choram,
gritam,
Mas VOCÊ não vê.
VOCÊ não ouve,
A sua ignorância lhe deixa cego, alimentando
seu ego.
VOCÊ ?
Sim, VOCÊ já parou para pensar que existem
pessoas,
HUMANO,
Que se alimentam do resto da sua comida ?
Não, né?
Mas fica comovida com a guerra na Síria,
Com uma morte na Suíça.
Realidade obscura, hipocrisia.
VOCÊ não enxerga a realidade do seu próprio dia
a dia.
Sabe aquela foto das redes sociais que te deixa
chocada?
Que te faz digitar um “amém” em vão?
Então, a realidade daquela foto está abaixo do
teu nariz.
Aquele sujeito é o mendigo que pede um real,
Lá no sinal para saciar a fome.
E tu passa no seu carro do ano e diz:
- “Vagabundo, não subiu na vida porque não
quis”.
Vê se ele nasceu em berço de ouro
E o pai é o dono de uma empresa fantasma,
Que desvia o dinheiro do Estado.
Dinheiro que seria para aquelas pessoas que
moram no lixão.
Dinheiro que pagaria a escola daquelas crianças,
Que vendem algodão doce até às onze da noite na
Praça do Feijão.
Realidade obscura.
Não dá para citar todos os problemas que nos
rodeiam,
Mas devemos tirar a venda e lutar,
Lutar contra aquilo que se diz normal,
Mas VOCÊ sabe que não passa de um problema
social.
Sim, essa luta é a coletividade,
Cabe a toda a comunidade.
Não adianta dizer que o problema não é seu.
É seu sim, é de todos nós!
Que ficamos de blá blá blá nas redes sociais,
Gritando por Revolução,
Querendo mudar o mundo,
Mas não muda de atitude
Pois o que precisa diz ser revolucionária,
É a sua ação.
O QUE HÁ POR TRÁS DAS
ROUPAS?
Uma vergonha escancarada?
Um corpo nu?
Uma alma despida?
Quem sabe um desejo escondido
É nas curvas que está o perigo.
Mas enfim, ninguém sabe o que há por trás das
roupas,
Talvez um corpo bonito com alma sofrida,
despedaçada, doída
Há muitas coisas escondidas
Quem sabe um labirinto todo embaraçado,
Um mistério,
Necessita de um mérito,
Um caminho a percorrer.
Quem sabe encontrar alguém disposto a conhecer,
a ceder.
O merecedor tem que merecer,
Mas enfim, o que há por trás das roupas?
As vestes escondem as cicatrizes de uma vida
corrida,
Talvez bandida com incuráveis feridas,
Mas no rosto sempre estampado um sorriso
sincero,
Um olhar permanente daquele que acorrenta à
mente
Não há como negar,
Independente,
Se não me engano escravo do próprio veneno,
Amarrado, amordaçado depende,
Talvez o corpo minta.
Mas e aí?
O que há por trás das roupas?
Um negro.
Me diz aí, alguém suspeito ou de respeito ?
Quem sabe a sociedade aponta o dedo,
Levou uma dura ou um baculeijo ?
É um negro, suspeito, sujeito.
Às roupas até escondem sua cor
Este ato tem nome: exclusão racial.
Por outro lado camisa larga, boné aba reta,
Esse é um motivo por ser apontado como bandido,
Que prefere a vida criminal.
Ah, é normal!
Ele anda por aí todo descolado,
Como disse tribo da periferia:
O quarto do último “ouvido Rap daquele que
malandro decola fumando um beck .“
Mas e ai, o que há por trás das roupas?
É difícil ser maré,
Em um mundo de Mané,
É triste saber que um pedaço de pano decide
quem você é.
ESSA ROUPA AQUI
Foi com essa roupa aqui, que fui estuprada,
Não fique assustada,
Você pode ser a próxima a ser abusada,
Sendo a mesma julgada a culpada.
Suas roupas são apenas mais uma desculpa
esfarrapada,
Por uma pessoa que diz não controlada,
Numa rua escura.
Um medo estampado,
Expressão que cada mulher carrega no seu olhar.
Amedrontada.
Qualquer barulho lhe deixa arrepiada,
Um passo rápido,
Um ataque,
Mais um grito ignorado,
Mais uma vítima julgada.
Foi apenas mais uma de muitas que já foram
caladas.
Essa é nossa história não contada,
Quantas de nós já foram abusadas ?
E quantas de nós vivemos essa realidade?
São histórias esquecidas,
Mas jamais apagadas por quem foi vivida.
São feridas não curadas,
Queixas registradas, que nunca foram atendidas.
E nós mulheres continuamos perseguidas,
Abusadas,
Atacadas,
Esfaqueadas e esquecidas em túmulos de terra,
Onde os próprios sacanas levam flores para as
belas adormecidas,
Apontada como culpadas.
Que diante de uma sociedade,
São vistas como oferecidas.
Short curto?
Mal amada, quase pelada,
Ainda reclama se for estuprada,
Batom vermelho também é um convite para ser
abusada,
Vai me dizer que precisamos andar bem vestidas
para não sermos atacadas ?
Que nada!
O Brasil foi invadido
E já achou os índios pelados,
Um convite para serem papados
E daí? Nós nascemos com a cara gozada,
Brasil nasceu de um estupro,
E porque não continuar sendo estuprado?
Por outro lado é ignorado
Os portugueses queria que fossemos civilizados,
Temos que andar vestidos
Porque é uma vergonha andar pelado, mas é
normal ser estuprado.
E hoje...
Muitos casamentos fracassados,
Pouco acolhimento,
Muitas mulheres aterrorizadas dentro das suas
próprias casas,
Tendo que satisfazer um macho,
Só por que está em um casamento,
Não fiquem caladas, só por que é mulher,
Precisamos gritar para mostrar a realidade que
nenhuma de nós quer,
Porque muitas já foram silenciadas,
Uma desculpa fajuta, na má conduta
Iremos à luta!
O Brasil terá vozes na escuta,
Esse presente não se tornará um passado
esquecido,
Pois não iremos nos calar,
Iremos gritar,
Contra o sistema que nos força a parar.
INOCÊNCIA MENINA
Na
inocência da cruel vida,
Uma
criança teve quatro anos da sua infância arrancada,
Que
ficará marcado em sua jornada,
Perseguida
por aqueles que pregam Cristo
Lutando
pela pré-vida.
E
esqueceu que a garota de dez anos,
Nem
sequer sua vida viveu,
Por um
tio que há interrompeu sua inocência,
Um feto
em ti cresceu.
E no
exato momento que a garota estava lutando entre morrer e seguir sua sina,
Uma tal
Sara desceu do inferno e divulgou os dados da menina
E só isso
não basta,
Pois teve
cristão implorando de joelhos ao chão,
A Cristo
nossa salvação,
Chamando
a criança de assassina,
O céu e o
inferno estão divididos,
E essa
vida ensina.
Do outro
lado, mulheres do fórum das mulheres unidas pela vida da menina
7 de
agosto o silêncio foi interrompido,
Durante
quatro anos uma garota chorava escondida,
Gritos ignorados
Essa é a nossa
realidade
É apenas
mais uma de muitas que foram caladas,
É apenas
mais uma que saiu com culpada,
Por ser
estuprada.
Onde
estupro é normal,
E aborto
é pecado,
O
criminoso foragido,
A menina
em perigo,
Muitos
revoltados,
Poucos em
sã consciência,
A inocente
sendo chamada de cachorra no cio,
Será que
nunca viu?
Cerca de
180 mulheres são estupradas por dia no Brasil,
E não vem
dizer que a mídia mostra o que quer,
Pois uma
garota de 10 anos já sentiu na pele o que é ser MULHER.